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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A menina do coração vazio


Não sei, não dá pra saber como ela nunca desiste dessas coisas. Ela quer amar, mas não se entrega, há meses que não sente seu coração pular, muito menos borboletas quando seus lábios tocam outros sabores. Ela é assim, reclama de estar sozinha, mas nunca olha para os lados.

De noite, no vazio do seu quarto ela se ajoelha e chora. Fica ajoelhada chorando até que as lágrimas parem, porque ela em si nunca cansa realmente. A garota levanta e se olha no espelho, odeia ver seus olhos vermelhos e o nariz que começa a inchar, porque é demasiada branca e qualquer coisa marca, jura que nunca mais vai chorar, mas no dia seguinte está lá novamente chorando. Vez ou outra ela arrisca uma oração, não sei bem o que ela sussurra, mas seus lábios mexem-se devagar.

Vive repetindo “Melhor coração vazio do que partido”, mas ela sabe que preferia mil vezes ter um coração partido pela simples sensação de estar amando, porque isso lhe garantiria que ela não é um monstro vazio e sem sentimento. Por que ela espera a sensação dos outros para se sentir completa ou ela mesma? Pobre menina.

E eu? Como sei da moça? Eu fico observando da janela do meu quarto. Às vezes ouço quando ela grita consigo mesma no espelho e tenho vontade de pular a janela do meu quarto para secar suas lágrimas. Sempre em vão, nunca pulei. Já quis muitas vezes me ajoelhar e orar com ela, já quis muitas vezes preencher o vazio. Mas ela nunca se entrega.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Quase mulher maravilha

Era uma vez uma quase mulher maravilha. Ela vestia uma armadura e todos acreditavam que ela era a mais forte e feliz de todas as pessoas, servia de exemplos para todos, quando alguém estava mal era a ela que recorria, sempre lhe diziam coisas do tipo "Você é perfeita e a mais forte. Admiro-te!". E com o passar do tempo ela também acreditou nisso.

Um dia nublado ao passar por um alguém ela sentiu frio, borboletas no estômago e uma sensação estranha indescritível. Ela estava apaixonada. Pobre menina! Não podia correr atrás de ninguém para pedir ajuda tudo isso por orgulho. Não podia deixar aparecer uma imagem fraca aos olhos dos amigos, não podia ser quem mais precisava. Ninguém notou. Ninguém notou até que precisaram, aquela velha loba conselheira não estava mais ali, ela havia dado lugar a uma menina frágil e apaixonada. Passou a dar outros conselhos, passou a parecer fraca. Só estava apaixonada.

Andava de cabeça baixa como se fosse culpada de um crime. Procurava respostas, mas não encontrava. Procurava meios de sair, mas não achava nenhum atalho. Procurava amigos, mas já não tinha tantos, somente alguns que lhe davam conselhos que ela mesma já havia cansado de se dar em frente ao espelho. Coitada da menina!

O pior nisso tudo é quando vemos a pessoa amada todo santo dia. Maldita escola! Andava pelos corredores  e sentia seu coração se quebrar ao se aproximar da sala proibida.

Um dia ela resolveu por fim a tudo isso. Não, não ela não pensou em se suicidar. Como sempre foi chamada de Mulher maravilha achou que talvez, só talvez, pudesse sair voando e ir para bem longe, onde não havia escuridão, pensou em raptá-lo talvez, não daria certo. Preferia que ele fosse por conta própria.

Resolveu que iria sozinha. Não, ela não saiu voando e encontrou um lugar maravilhoso onde nunca havia escuridão ou talvez tenha encontrado. Ela procurou dentro de si mesma a força e disse a aquele menino as palavras proibidas.

- Eu te amo! Amo como nunca amei ninguém.

Em seguida ele pronunciou as palavras que ela jamais queria ouvir. Ele disse que não. De tudo pior que ele podia dizer, não era o pior.

Ela procurou mais ainda e achou a única pessoa que podia lhe fazer feliz. Ela mesma!

E ela foi feliz para sempre!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

La musique


Celina parou quando o avistou descendo as escadas. As escadas daquele porão-bar eram sujas e faziam um baralho estranho quando alguém pisava com muita força, por algum motivo ele pisava com força porque em toda sua distração ela conseguiu ouvir levemente o barulho.
Seu coração parou e seus olhos o seguiram lentamente enquanto ele descia as escadas. Ele parou e observou por cima, sua altura lhe permitia ver a cabeça de quase todos. Ela abaixou a cabeça e virou-se para seu instrumento musical.
Era o grande dia para Celina, apesar de não muito confortável e ser em uma espécie de porão, aquele era um dos lugares que mais reunia gente amante de boa música da cidade, era considerado grande porta para as bandas que começavam. Observou a banda que se apresentava e os viu começar a tocar sua última música. A próxima banda seria a dela, e em todas as músicas, um pouco dele. Suas pernas tremeram.
Tudo bem, qual seria a possibilidade de ele notá-la ali e perceber que ele era as músicas dela? Calculou e lembrando-se de como ele nunca entendia nada, conseguiu acalmar seu coração. A banda encerrou e agradeceu.
- É agora. – Disse o garoto de cabelos longos, o baterista.
Celina não pronunciou nenhuma palavra, somente concordou com a cabeça.
Subiram no palco e todos os preparativos começaram, Celina era vocalista e baixista, preferiu se concentrar atrás do palco, até que o momento a chamou. Pegou seu instrumento e se digeriu ao centro do palco, de cabeça baixa.
- Boa noite. Esperamos que gostem.  – Celina não poderia escolher palavras piores?
Levantou a cabeça, olhou para o baterista que começou, seguido do guitarrista, olhou para o público novamente, ela sabia que o procurava, olhou para o instrumento e começou a tocar.
Dum-Dum-Dum. O som grave do baixo não era muito notável, mas era necessário.
Nos segundos seguintes cantou normalmente, até que o avistou. A próxima frase da música não era muito conveniente.
“ I miss you...”
A banda que tinha um som meio The Beatles aparentemente agradava o público, o guitarrista solo encostou na baixista durante o solo e lhe digeriu um olhar “Olhe, estão gostando”. Celina tinha um olhar triste e medroso.
A banda continuou tocando, e ela não conseguia tirar os olhos dele enquanto cantava as músicas que tinham sido feitas para ele. Eram seus sentimentos falados ali, na frente de todos, melhor, eram cantados. A voz de Celina era perfeitamente suave.
O show terminou, foram aplaudidos e abraçaram-se.
- Parabéns, Lina!  Você encarnou a personagem hoje e cantou muito bem. – Parabenizou um amigo da banda.
- Obrigada. – Ela não encarnou a personagem. Ela era a personagem. Era ela, a menina do coração partido e que precisava de alguém para completar seus sonhos. Era Celina, em carne osso e coração.
De repente uma mão tocou-lhe nos ombros, ela se virou e se deparou com a única pessoa que não queria encontrar.
- Lina? – O que era pra ser uma afirmação, acabou saindo como uma interrogação.
Por que ele lhe chamou de Lina? Ele não tinha esse direito, não mais.
- O que? – Ela tentou se manter indiferente.
- Eu gostaria de lhe dar os parabéns e conver...
Ela interrompeu.
- Obrigada. – Disse se virando.
- Espere, podemos conversar um pouco? – Disse ele tocando novamente seus ombros.
- Não, não podemos.
Ela tentou se manter indiferente e posar de moça forte, mas seu olhar e sua voz trêmula a denunciavam. Ele percebeu, ela não sabia, mas nesse tempo, ele havia crescido um pouco, tinha amadurecido. Mas o buraco no coração da pobre moça só tinha crescido, alimentado pelas magoas que ela guardava, alimentado pelas músicas que compunha e cantava.
- Lina... – Ele a chamou.

Continua.