Hoje guardo boas lembranças de um tempo que a minha única preocupação era em perder a hora do desenho animado, não porque havia demasiado trabalho ou porque o trânsito era intenso, simplesmente porque eu costumava dormir demais. Não faz tanto tempo assim, mas a nostalgia já pesa bastante para machucar meu coração. Eu nunca quis crescer, mas foi necessário. Ainda guardo bastante coisa, desde hábitos até brinquedos, sou uma eterna criança, mas não é a mesma coisa.
Já faz muito tempo que meu pai não tem mais forças para me carregar no colo, faz muito tempo também que os amigos da minha rua não brincam de "corte" até altas horas das dez da noite, quando um grito cortava o ar, era hora de ir para casa tomar banho. Quando eu era menor, eu e meus amigos costumávamos pegar cabos de vassoura, quebrar ao meio e assim ganhar duas espadas. Estávamos prontos para a luta, éramos guerreiros que tinham que defender a humanidade. Ou era simplesmente grandes jogadores de tacobal, dependia da imaginação do dia.
Eu já fui espiã, fui jogadora de futebol, lutadora, ninja, jogadora de vôlei, já estive na terra, na água, no fogo, e até no ar. E nos dias que a imaginação estava rara nós simplesmente pegávamos uma sacola de plástico e jogávamos ao vento, quem pegasse-a primeiro tinha o direito de jogá-la para outro pegar. E assim era por horas, até escurecer, até quase cansarmos - criança de verdade nunca está cansada de brincar. Ou então fazíamos bolinha de papel e jogávamos no telhado da minha casa, ficávamos esperando a bolinha cair para jogarmos de novo. Sem lógica, né? Mas era só felicidade.
Hoje em dia vejo "crianças" - Desculpem-me pelas aspas, mas para mim essas criaturinhas não são crianças! - de dez anos saindo para festas, bebendo, fumando, e tudo isso escondido dos pais. Sem permissão. Sou da época que se eu queria assistir um filme da Tela Quente - Que começava por volta de 22:30 - eu tinha que pedir permissão para os meus pais, e se não deixassem eu ficava caladinha e ia dormir sem chorar.
Ah... Sei que não há idade para um amor, mas acho realmente estranho vendo menininhas de dez anos chorando por causa de um coração partido, no meu tempo, que não é muito tempo atrás, nós não chorávamos de noite, sabe por que? Porque a gente tinha medo do boi-da-cara-preta aparecer! Porque diziam que esse boi aparecia pra quem chorava de noite.
Eu sei até hoje cantar todas as cantigas de roda, sei cantar "atiraram o pau no gato" e sei também "marcha soldado cabeça de papel", e eu realmente me preocupava em marchar direitinho, tinha medo de ser presa no quartel. Sempre fui a mais velha do grupo de amigos, então tudo que eu aprendia eu ensinava para eles na brincadeira de escolinha, e eu me sentia feliz imitando minha professora, porque ela era digna de respeito e admiração.
Eu não tinha notebook, celular, Ipad, nem nada disso, mas tinha meus livros de conto de fadas, tinha meus lápis de cor, tinha as brincadeiras todas as tardes após a escola. E isso nunca me matou, muito pelo contrário. Eu cresci bem, isso me fez apaixonar por palavras, me fez amar artes e me fez crescer feliz sabendo que tinha meus amigos.
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